quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Maldita hora em que me lembrei de fazer arrumações!
Aquelas caixas velhas para além de pó e aranhas, tinham milhões de histórias e recordações, nem todas agradáveis de relembrar. Algumas até tinham tentado fugir daquelas caixas para assombrar a minha vida.
Aquele recibo, que nada mais era que a conta do nosso jantar, fez lembrar-me de um passado que tenho procurado esconder.
Não queria que a família que construi ficasse a saber a minha origem. Origem que tentava esquecer.
Fui uma criança feliz e nada me faltou. Tive uma mãe carinhosa, atenta e sempre pronta a ajudar. O meu pai era espectacular e muito bondoso. Ou seja, tinha os pais perfeitos! É verdade que não era muito parecido com os meus pais nem os meus irmãos. Algumas pessoas, às vezes, faziam comentários. No início, não ligava, mas com o passar do tempo aquelas conversas chateavam-me.
Mas naquele dia ouvi a conversa que iria destruir a minha vida. Os meus pais falavam de alguém que insistia em voltar. Claro que naquele momento não achei que aquela conversa pudesse ter a ver comigo. Mas, curioso como sou, quis perceber de quem se tratava. Acabei por descobrir que a pessoa que queria voltar era a minha mãe biológica. Aquela que não hesitou em me deixar em troca de alguns escudos, que foram mais importantes que a minha felicidade.

Depois de muita insistência, acabei por convencer os meus pais a contar-me a verdade. Poucos dias depois consegui marcar um encontro com aquela mulher. Tentei imaginar como seria. Se afinal seria parecido com ela. Escolhi um restaurante discreto. Cheguei mais cedo do que o combinado. Não precisei que ela se apresentasse pois já sabia que era a pessoa por quem eu aguardava. Eu era extremamente parecido com ela. Aquela conversa revelou uma mulher muito diferente daquilo que eu gostaria. Era fria, distante e egoísta. Não havia nenhuma história triste para me contar, nem arrependimento. Apenas o desejo de que a pudesse ajudar interessava para aquele jantar. Saímos em silêncio, mas precisei guardar alguma recordação daquela mulher. Não encontrei nada melhor do que o recibo daquele restaurante, para jamais esquecer que o passado que devemos recordar pode ser sempre aquele que nos faz mais feliz.  

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