segunda-feira, 5 de janeiro de 2015


5 De Janeiro de 2005


Querido Diário,

Escrevo-te, pois és a minha melhor maneira de comunicar com o mundo. Escrevo-te em folhas descoradas, pálidas. Algumas manchadas com chocolate e café, provenientes do caderno de escrita que a minha avó me deu tinha eu 6 anos.

Encontro-me com essas mesmas folhas em cima do meu colo, na tentativa de escrever palavras que façam sentido para explicar os anos da minha ausência. Tentativa essa, dificultada pelo facto de estar sentada num autocarro e não na secretária onde costumo escrever.

Já há 3 horas que me encontro sentada no mesmo sítio e as palavras não fluem como eu gostaria, também percebo que não se possa explicar numa simples carta o “porquê” de ter estado estes anos todos sem comunicar. A única coisa que me invade a mente é o cheiro a eucalipto e o som dos galhos a estalar nas rodas do autocarro. Nada mais me distrai já que, as poucas pessoas que viajam no mesmo estão todas a dormir.

Bem, voltando à escrita, tento mais uma vez de pensar como hei-de começar a carta. O tempo está a esgotar-se e daqui a pouco é quase dia. Provavelmente não escrevo carta nenhuma, não consigo pôr as tantas palavras que gostaria de dizer numa folha de papel A4.

O meu pai ligou-me ontem. Foi a primeira vez que falei com ele. Senti sofrimento, mágoa, tristeza nas palavras que me ia dizendo. Soube que a minha mãe ia ser operada a um tumor. Deve ser por isso que me meti no primeiro autocarro em direção à terra dos meus pais, depois de tantos anos a tentar fugir da rotina, vou voltar para casa.

Ela há-de superar isto, já passou por muito, deve ser por isso que é a mulher forte e destemida que é hoje e que eu tanto admiro. Falta pouco mais de 3 dias para chegar á terra, por isso tenho de escrever a carta antes de lá chegar.

Enfim, acho que esta viagem me vai fazer bem. Preciso de desanuviar e isto veio mesmo a calhar.

Até ao próximo dia, que me lembre de te escrever.

                     Beijinhos, Victória De Melo

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