domingo, 16 de novembro de 2014

Fazes falta no meu miserável mundo. Para ti, o que mais importava não era o dinheiro, era eu.
O sítio onde vivemos já não é o mesmo sem a tua presença, é apenas um apartamento, não é a minha casa. Tu eras o meu tecto, o meu abrigo.
A mãe por vezes chora quando falamos de ti, eu sou incapaz de o fazer, talvez por fraqueza.
Do mundo, muito sabias, estiveste na guerra, viste amigos teus a morrer, viste tudo a desaparecer, mataste, quase que foste morto, sofreste mas mesmo assim, tornaste-te no melhor ser humano que me podia ter educado.
Olhava para a tua cara velha, estragada, os teus olhos brilhavam, a tua boca sorria.
A pessoa que tu eras, espero um dia vir a ser.
Ensinaste-me a disparar armas, a caçar, a tomar conta de mim, a ser educada, simpática, mas nunca estúpida. Contavas-me histórias de infância, amores falhados e tristezas nunca ultrapassadas. Disseste-me que te arrependeste de nunca teres vivido, e aconselhaste-me a não levar uma vida de sobrevivente, tal como tinhas feito. 
Tiraram-te de mim tão cedo, tão injustamente, tão repentino e quem me dera poder partilhar a minha vida contigo, vida que agora é só, vazia.
Sorrias mesmo quando tudo estava de pernas para o ar, não entendo como. Recordo-me quando tiveste aquele mal dentro de ti, quando o cancro te podia tirar de mim, toda aquela angústia, dor, contudo quando te fui visitar ao hospital, sorriste e disseste que já mais te afastariam de mim, mentiste.
A tua voz há muito que se evaporou da minha lembrança. O teu rosto já quase desapareceu da minha memória, mas, já mais, esquecerei que exististe, os teus concelhos, tentarei segui-los e os teus ensinamentos serão utilizados.

Um beijo da tua neta.
     
   T.B

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