segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Primeiro Amor





Era uma manhã fria de Novembro, as nuvens prometiam um dia de tempestade, porém não chovia, como se elas soubessem que tinham o trunfo e se divertissem a ameaçar. Também era Domingo. Eu planeava passar o dia em casa, entre cobertores quentinhos e chocolate quente. Oh! Como ansiava por um dia de preguiça sem culpa. O que mais faria num dia frio de Outono? Felizmente, os meus deliciosos planos não se realizaram.
Estava eu no sofá, quando os meus pais me aliciaram a sair de casa, com a promessa de uma ida ao centro comercial. Fui resiliente. Não queria, não queria, não queria. Sair do conforto da minha casa, ter de tirar o pijama, para quê? Para ir a um local barulhento com dezenas de pessoas a fazerem as primeiras compras de Natal enquanto fugiam da chuva? Por fim, acabei por me resignar.   
O centro comercial estava exactamente como eu tinha previsto: uma enorme confusão. Os meus pais foram fazer compras e eu aproveitei para me escapulir para a loja que eu sabia que estaria mais vazia.   
 Tirando um ou outro cliente de passagem, a livraria estava deserta. Acho que faz parte do seu encanto, o silêncio, o vazio, a solidão. Como qualquer amante de livros, passei os dedos pelas lombadas, li contracapas, até que parei. Fiquei hipnotizada por um livro, “Rubi”, dizia a capa. E que capa era esta. Diz-se que não se deve julgar um livro pela capa, todavia a verdade é que a capa faz tanto parte do livro como as palavras que o constituem. A capa é a porta que nos convida a entrar. Peguei no livro cuidadosamente e inspecionei-o. A autora era Kerstin Gier, era alemã. A contracapa prometia uma premissa cheia de acção com viagens no tempo e, um romance a acompanhar.  Olhei para cima, encontrava-se na secção de jovens. Na altura tinha 10 anos. Até então, tinha-me limitado à secção infantil, onde os livros narravam as aventuras de fadas e outras criaturas fantásticas,as  letras eram grandes e diversas ilustrações preenchiam as páginas.  A secção juvenil era território proibido.
Reli a contracapa. Pousei o livro. Saí da livraria.
Porém, voltei acompanhada. Mais tarde, no conforto do meu quarto, peguei no livro com cuidado, como se o feitiço pudesse ser quebrado. Comecei a ler, e não parei. Li matreiramente até de madrugada. Li até o acabar. Todas as suas 300 páginas. O que na altura, era o meu maior feito. O livro era exactamente o que prometera, cheio de acção e um complexo sistema de viagens no tempo, que ainda hoje não compreendo totalmente. Contudo, o que me marcou foi o romance. Anos mais tarde, li algures a seguinte citação “Estou apaixonado pela ideia de estar apaixonado”, não encontro melhores palavras para descrever o que este livro me fez sentir.
O livro era perfeito? Não. Talvez, se o protagonista fosse um grande clássico, este conto, de um dia há muito passado, seria mais mítico, grandioso e marcante. Desde então, já li imensos livros, de todos os géneros, desde a uma fase obscura paranormal, que hoje lamento imenso, até romances clássicos. Contudo, não me arrependo de o ter lido. Porque talvez seja assim que os primeiros amores devam ser, cheios de falhas, imperfeitos, uma história acabada que continuará nas nossas memórias e nos marcará para sempre.


 Jasmim

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