sexta-feira, 21 de novembro de 2014

            Em tempos tive alguém especial, alguém com que podia contar; sentia que podia confiar nele… Esse alguém era o meu melhor amigo. Mas como nada dura para sempre, essa felicidade também acabou.
            Toda a gente precisa de pilares e quando eles desabam, às vezes o melhor é partir, e foi o que eu fiz, parti e deixei tudo para trás.
            Admito que não foi fácil; deixei amigos e pessoas que conhecia há muito tempo. Perdi o seu apoio, o seu carinho e a sua compreensão mas não me arrependo, porque o conheci.
            Quando nos conhecemos, ele era apenas um rapaz divertido, mas a minha opinião rapidamente mudou. Éramos muito parecidos talvez por isso tenha sido tão fácil conhecê-lo.
            Ele não demonstrava quando estava triste, tentava usar sempre o humor para disfarçar; era querido e simpático, mas tinha medos, tantos como eu, tinha medo de falhar, de não ser aceite… Nunca o tinha visto chorar, só mesmo no fim…
            A nossa amizade foi crescendo e éramos cada vez mais importantes um para o outro, já sabíamos o que o outro estava a pensar mesmo sem o dizer, ríamos em simultâneo. Ainda me lembro do dia em que ele me disse que eu era a sua melhor amiga, foi a melhor coisa que já ouvi.
            Estivemos assim uns anos, mais felizes era impossível. Mas alguém tinha de se me meter e estragar tudo…
            Comecei a senti-lo a afastar-se de mim, mas não fiz nada, nem sei bem porquê, talvez por não acreditar ou não querer encarar a situação.
            Mas o inevitável aconteceu: discutimos, gritámos um com o outro, dissemos coisas que não queríamos…
            Não devia ter dito o que disse… Ele começou a chorar (pela primeira vez à minha frente), não disse mais nada e simplesmente começou a correr e eu fui atrás dele.
            Ele era muito mais rápido do que eu, mas, mesmo assim, estava quase a apanhá-lo. De repente foi para a estrada, e um camião passa. Ele foi atropelado apenas a alguns metros de mim sem que eu pudesse fazer nada para impedi-lo.
            Esteve dois meses em coma, mas foi-lhe declarado morte cerebral. Ontem desligaram as máquinas… Acho que eu também morri naquele momento…
            Não imagino um mundo sem ele. Não consigo perdoar-me a mim própria pois agora ele nunca o irá fazer. Passei todos os dias junto da sua cama a pedir desculpa, na esperança que ele me conseguisse ouvir e perdoasse de alguma maneira.
            Acho que o tempo se está a esgotar, por isso, peço desculpa por todo o transtorno e sofrimento que vou causar, mas a culpa é demasiado grande para eu conseguir viver com ela, não se preocupem, porque de certa maneira, neste momento estou feliz, o meu sofrimento está quase a acabar, por isso, sim, pode dizer-se que estou feliz…
            Não sei se acredito na vida depois da morte, mas sei, que vou acabar por estar com ele. Acho que alguém está aqui comigo, porque sinto paz e compreensão, por isso, espero que seja ele… Em breve estaremos juntos…
Desculpem
                                                                                                                               Lena

            

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