[Música]
“Aqueles que nos amam nunca nos deixam de verdade.”
— Sirius Black
Sintra, 16 de fevereiro de 2012
Ana,
Não
se supera a dor da perda e, como tal, não espero que superes a dor de perderes
alguém tão importante como a avó. Eu própria também ainda não o fiz. Tenho
passado os últimos dias com uma mágoa e um vazio que me preenchem
constantemente. É difícil. Todos nós sabemos que sim. A mãe está devastada e
até o pai se foi um bocado abaixo. Mas, de certa forma, temos aprendido a lidar
com a ausência da avó, e até mesmo com a tua. Estares longe torna tudo muito
mais difícil, acredita. Mas ninguém te julga. A vida continua e tu tens a
oportunidade de concluíres o curso de que gostas. Por isso, longe ou não,
fá-lo. Agarra essa oportunidade como sei que seria o desejo da avó.
Tenho-a
visto, sabes? Ela está comigo em certas ocasiões. Quando estou sozinha e dou
por mim a recordar muitos dos momentos que passámos ao lado dela, ela aparece,
ao meu lado, a sorrir-me e a dar-me forças para continuar. A mãe não sabe, não
acreditaria mesmo que lhe contasse. Nem eu acredito naquilo que vejo. Eu sei
que são meras ilusões da minha cabeça, de forma a compensar a ausência que ela
deixou em todos nós. Mas é que por vezes parece… Parece tão real, entendes? Ela
está ali, eu sei que está. Ela nunca nos deixou de verdade. Onde quer que a avó
esteja, está a olhar por nós, a proteger-nos de tudo o resto. Também acontece o
mesmo contigo? Quero dizer, de alguma forma, também sentes a presença dela?
Todas
as semanas vou à campa da avó colocar flores novas – orquídeas, iguais às que
ela tinha no seu jardim. Aquele que morreu com ela. Eu e a mãe temos tentado. Sempre
que podemos, vamos a casa da avó e tratamos do jardim dela. A tarefa, no
entanto, não é tão simples quanto parece. Não está lá a avó, e não sendo a avó,
nada é igual. Ela tratava do jardim com tanto amor, porque tudo aquilo era
fruto do trabalho dela. O carinho com que semeava as flores era o mesmo que
mais tarde colhia ao vê-las brotar. E, agora, é como se também o jardim
estivesse de luto pela morte dela. Mas nós vamos tentar, prometo que sim, mal
regresses a casa vamos as três tentar fazer com que o jardim da avó continue
alegre e cheio de vida.
Sorri,
Ana. A avó queria que todos nós sorríssemos. Sê feliz e aproveita a vida da
melhor forma possível. E vai dando notícias também! Todos temos imensas
saudades tuas.
Da tua irmã que te adora,
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